terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Um fim de semana na Nicarágua

Posso dizer sem medo que esse, até agora, foi o fim de semana mais surreal da minha vida. Um misto de muitas coisas boas e outras nem tanto. Mas garanto que a aventura valeu à pena.

Granada é uma cidade colonial, a mais antiga da América Central. Mas, o mais interessante é que até hoje conserva sua estrutura arquitetônica original na maior parte da cidade. São quadras e quadras de casas coloridas emendadas umas nas outras. Cada cor representa uma família, e seus habitantes não fazem acepção de cores (todos os tons de rosa possíveis, e uma variedade de cores florescentes fazem parte da ilustração da cidade).




Chegamos à cidade à noite, e a minha primeira impressão foi péssima. Ver aquele monte de casas antigas sob luzes amarelas me trouxe uma nostalgia estranha, uma sensação ruim, não sei por quê. Estávamos todos cansados, mas nada que uma boa chuveirada não resolvesse. Todos prontos, pé na rua, fomos procurar algo para comer. Fomos até a rua de bares e restaurantes; mesas fora, música ao vivo (seleção de rock perfeita). Minha impressão aos poucos foi mudando, um ambiente muito gostoso, com exceção dos meninos de rua pedindo esmola o tempo todo, ou tentando te vender cigarro. Tinha até me esquecido de como era isso. Tinha também um grupo dançando break na rua, na esperança de ganhar uns trocados.

Pedi tacos de carne, pois a fome era grande e o prato é rápido. Eu gosto muito de pimenta, mas o que aconteceu comigo foi ignorante. Na verdade, não só comigo, meu amigo polonês, Adam, pediu a mesma coisa. Logo depois das primeiras mordidas, mudamos de cor, começamos a suar e água começou a sair do zóio! “Uhull!” foi pouco! Viramos uma Corona (cada um) em uns dois goles! (lá uma Corona é R$ 4,00).

Depois de recompostos, fomos a um bar um pouco mais afastado, lotado de gringos. Bacaninha, mas nada especial.

No dia seguinte, acordamos ao meio dia e fomos almoçar na rua. Andamos por meia hora sob sol escaldante (Cuiabá até que é fresquinha...) e em meio a uma confusão de gente, cavalo, carro, tuk tuk, cachorro... Assim é o centro comercial: uma mistura de Índia, Paraguai e feira hippie de Goiânia. Entramos no primeiro restaurante decente que encontramos. Self-service. Na verdade não é self-service porque quem te serve é a tiazinha mal-humorada do outro lado do balcão. Aí você vai apontando... “Un de este, este ahí, porfa!”. Não tem balança e eu não ousei perguntar qual o critério que o tiozinho mal-humorado do caixa usa para colocar o preço na comida. Ele olha pro seu prato atenciosamente e fala o preço. Meu prato deu uns 3 Reais, ou umas 30 Córdobas. E, pasmem, a comida estava MARA! Comida caseira mesmo, muito bem feita.



Depois do almoço, fizemos um tour de charrete que durou praticamente o resto do dia. Começamos pelo centro, onde encontramos o “ponto” das charretes. Elas ocupam toda uma quadra e são enumeradas como taxis. Passar pelas ruas de paralelepípedo e casas coloniais foi como viajar no tempo. Em Granada faz muito, muito calor, então a maioria das casas possui um jardim interno para refrescar o ambiente. Não, não é jardim de inverno. É jardim mesmo. Você entra na casa, passa por um ou dois cômodos e logo depois se depara com um jardim a céu aberto. É como se o quintal estivesse bem no meio da casa. E refresca mesmo!

Depois de umas duas horas passeando pela cidade, largamos os cavalos e pegamos um barco para dar um rolê no Lago Nicarágua (ou Cocibolca). Os ignorantes como eu pensaram que era mar. O lago tem uma área de mais de 8.000 km², é o maior da América Central e o segundo maior da América Latina (o maior é o Titicaca, abestado!). Agora, você me pergunta: qual a graça de dar uma voltinha num lago? Explico. No meio do lago existem várias ilhotas onde os ricaços Nicaragüenses constroem casas. É um condomínio no meio do lago; cada ilha é uma casa. Tem até restaurante!

Mais adiante no lago tem uma ilha vulcânica, mas não fomos lá não. Nos contentamos em observar o vulcão de longe mesmo.

Depois de bisbilhotar a vida alheia, voltamos a terra, encerramos o tour de charretes fomos ao mercado de rua. A parte que fica ao ar livre é a que descrevi há pouco (Índia+Paraguai+Goiânia). Mas o pior ainda estava por vir. Caminhamos como por um labirinto até chegar a uma parte fechada (lona no teto). Uma mistura de cores, cheiros, muito, muito diferentes. Me senti em um filme de época, não sabia se ria ou se chorava. Não consigo definir qual foi minha sensação predominante: fascínio ou desespero claustrofóbico!


Encerramos o dia com um jantar em um casarão (estilo colonial, óbvio). Nossa mesa ficava na sacada, de onde pudemos ver de camarote uma procissão da virgem não sei das quantas, com direito a carro alegórico e escolta policial.

No dia seguinte, levantamos cedo para partir. Na volta, paramos em San Juan Del Sur e pegamos uma prainha. Nada demais, mas é praia, né...